(Foto produzida em 1967 no Judô Clube
Juventude, vendo-se à esquerda Erick Acioli Wolff, ao centro Augusto Acioli de
Oliveira, então com 22 anos e à direita Percy Acioli Wolff)
De que forma pode a prática do judô influir na
formação de uma criança? Como devem os instrutores conduzir os ensinamentos?
Quais serão os benefícios finais de todo este trabalho?
Lancei estas 03 (três) questões e passarei a
desenvolvê-las por etapas.
Em primeiro lugar deve ser estimulada uma
troca de informações entre o professor e os responsáveis pelos infantes,
oportunidade em que estes explicarão os objetivos que os levaram a encaminhá-los
ao judô, os tipos de reação dos jovens em família, junto a amigos e
colegas, seus aproveitamentos escolares, ..., de maneira a possibilitar a
identificação do melhor caminho a ser percorrido para ministrar o ensino e o
treinamento de um esporte olímpico que possui raízes em uma arte militar
japonesa.
As reações do recém-chegado praticante logo às
primeiras semanas de treinos permitirão que seu professor desenvolva
importantes observações, que se somarão às anteriores informações obtidas junto a familiares.
O simples transitar em uma sala de treino
(dojô) desperta no jovem sensações disciplinares não experimentadas, por ele,
em outros locais de aprendizado, por uma razão muito simples: os séculos de
história, ali presentes, que assistiram à construção e fundamentação de um
quadro de valores, em essência, voltado para a formação de destemidos combatentes.
A força da mensagem de um mestre de judô
reside no fato de que ele representa, para seus alunos, um símbolo atingível a
médio ou a longo prazo, algo bem diverso dos heróis das literaturas em
quadrinhos, cuja imagem esfacela-se à medida que os anos passam.
O jovem sabe que a progressiva evolução de
faixa consagra o saber já detido por ele, naquele esporte, bem como o estimula
a caminhar à frente no sentido de obter sua primeira (entre 10 estágios) graduação
de faixa-preta (1º Dan ou sho-dan).
Isto leva as crianças a aceitarem, com
convicção, os ensinamentos técnicos, orientações pessoais e comportamentais que lhes são passados pois firmam, ao
longo do tempo, a certeza de que dedicando-se aos treinos atingirão, também, a
tão cobiçada etapa.
Ora, se um professor de judô não se restringe,
apenas, a ministrar conceitos de natureza técnica e amplia o foco educacional
abordando normas de boa conduta e princípios disciplinares, como deve ser o
procedimento da criança na escola, na rua, com os pais, irmãos, amigos, em
relação às refeições, etc., ele passa a preencher, verdadeiramente, a razão
social que justifica e fortalece sua existência.
No Judô existe uma ordem hierárquica de
graduações (faixas) e com isso cria-se um código de respeito mútuo entre os
praticantes, algo imprescindível para a formação de uma personalidade cidadã.
As crianças mais graduadas são orientadas e conscientizadas quanto ao importante papel que
representam perante os iniciantes. Com isso, desenvolve-se nestes pequenos
atletas a semente de um processo de liderança que irá, progressivamente, evoluir ao longo dos anos.
Deve ser estimulado pelos professores que os
alunos mais experientes procurem monitorar e orientar aos mais jovens, no
sentido de integrá-los ao grupo a que pertencem.
Isto favorece e fortalece o princípio da
identidade, companheirismo, lealdade, a idéia de equipe, desenvolvendo uma alta
noção do que seja caráter, disciplina e
respeito aos semelhantes.
Com todo este trabalho realizado prepara-se um
jovem para as dificuldades que ele irá enfrentar, fora dos tatames, ao longo de
sua vida.
Considero o ensino de rolamentos a parte mais
importante do judô, para iniciantes ou adultos.
Dentro desta concepção criei uma metodologia
própria, adicionando novos movimentos voltados para desenvolver reflexos, maior domínio do corpo quando projetado por adversário, proteção em face de quedas,
tropeços ou desequilíbrios em locais públicos, nas residências, etc.
Penso que as competições para crianças podem
conter importantes estímulos no sentido de uma formação esportiva, mas não devem representar,
necessariamente, o objetivo final a ser proposto por um técnico de
judô à faixa etária até os 10 (dez) anos.
Nesta idade tal evento deve estar mais voltado
para a recreação infantil.
O risco de uma derrota desestimular um
iniciante com futuro promissor é muito grande, principalmente, pelo fato da
experiência demonstrar que inúmeras crianças recebem cobranças por vitórias, algumas vezes
tão enfáticas que, diante de resultados adversos, passam a
sentir-se impotentes, assumindo uma
postura retraída que preserve suas imagens perante a família e colegas. Daí, para abandonarem os treinamentos é um passo.
A função de educador é muito mais
importante do que aquela decorrente de uma mera e passageira vitória de um aluno em competição.
Todos os instrutores devem incutir nas
crianças a idéia de analisarem, avaliarem e corrigirem os erros técnicos
cometidos após um resultado adverso, bem
como estudar os acertos dos adversários para neutralizá-los em enfrentamentos posteriores.
Cabe aos técnicos orientarem os
responsáveis por um judoca, a fim de que procedam de forma semelhante,
jamais, através de críticas, punições ou promessas de premiações, para que não o traumatizem
com atitudes e palavras desestimulantes, pois com isso - somente - conseguirão criar
intransponíveis obstáculos ao que se propõe o Judô, qual seja uma verdadeira
formação física e moral de seus praticantes.
Autor: Augusto Acioli de Oliveira
Judô Clube Juventude (1964-1971)
3º Dan diplomado pelo prof. Fuyuo Oide da Associação Lapa-Budokan em 25/05/1969
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